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domingo, 25 de julho de 2010

E ELE, O ANFITRIADO?!

Lêda Selma

– Não acredito! Você por aqui? Quanto tempo! Que prazer!
– Prazer sem medidas. E por falar nelas, as medidas, você está muito bem. A lei da gravidade, no seu caso, esqueceu de ir à lida.
– Será? Pois é, quem é vivo – não só vivo, convenhamos – sempre aparece. Você também está ótima.
– E esse cabelo sexy? Dizem que as ruivas... bem, dizem. E sua pele, então? Frescor de naftali..., arre, nectarina!
– Como de costume, sempre confusa e aprontando alguma. E de marido, em que número está? Da última vez...
– O atual é o quarto, porém, um de meus olhos acaba de divisar um possível quinto. Espere, aquela ali não é a... Hum! veja que pretinho básico ela está usando...!
– É a própria. Pretinho básico...?! Ela está de vermelho, uai!
– Acorda, mulher! O pretinho básico da vez é outro...
– Chiiii, você e suas sutilezas! Escute, não era ela quem dizia que, a cada troca de carro, devia-se também trocar o marido? Segundo a devassa, o prazo de utilidade de ambos é o mesmo: no máximo, dois anos. Que descarada!
– Sei não, acho que a fulana está toda plastificada, siliconizada e lipoaspirada, observe. Reforma geral e irrestrita. Ih! olhe lá, do outro lado, aquela talzinha que afanou o marido da própria empregada, recorda-se? Um escândalo e tanto à época.
– Se me recordo... O escândalo correu de boca em boca e de ouvido em ouvido. E a empregada ficou mesmo no prejuízo.
– E você botou reparo na benevolência da fenda e do decote da afanadora? E os olhos masculinos tateiam os vãos e desvãos, reentrâncias e protuberâncias da farturenta, notou?
– É, e dela, a lei da gravidade também se apiedou um pouco. Foi à lida sem muita garra, apenas com aquela disposição de funcionário público em antevéspera de feriado ou de político após a eleição. Sortuda!
– Ih! falando nele, ele.
– Ele? Ele quem?!
– Um político autêntico, ora: não faz nada pra ninguém, mas é uma simpatia! Embora já pirocado, continua charmoso.
– E muito presente: na alegria e na tristeza. Já no gabinete, nem tanto. Porém, sumido, sumido, ele não fica. Se não frequenta a Assembleia Legislativa, pelo menos a outra, a de Deus, vez alguma, sim. Essas excelências...!
– Parece que ele não nos viu. Foi direto para a roda dos homens.
– E bote tento na roda: uma alegria só, que gargalhadas gostosas! Por certo, piadas e mais piadas.
– Gosto muito dessas ocasiões; são ótimas para encontros e reencontros, bochichos e cochichos, irradiação da vida alheia, enfim. A gente arranca até defunto da cova...
– Cristo Santo, bem lembrado, e, felizmente, a tempo! Com licença, amiga, preciso falar com a anfitriã.
– Anfitriã, a protagonista das maiores façanhas nos tempos da faculdade? A mulher era de morte!
– Pelo visto, ela não, o marido. A propósito, vou abraçá-la e aproveitar para dar um adeusinho ao anfitriado.
– Espere. Tcham, tcham, tcham, tcham! Quem chegou? A maior novidadeira do pedaço e seu inseparável meio-risinho.
– E com que elegância a depravada aproxima-se da anfitriã, de cujo marido foi usuária assídua. Cínica!
– É, os cumprimentos embeijocados são a alma da conveniência...
– Alma? Boa lembrança! Cruzes, me entreti tanto neste converseiro que me esqueci, de novo, de cumprimentar a anfitriã e reverenciar o anfitriado.
– E estamos aqui justo por causa dele, o motivo deste evento. Pobrezinho, é o menos lembrado... E vá logo falar com nossa amiga, mas cuidado com as palavras, hem!? (Meu Deus, que essa tresloucada não troque Chico por cisco nem morte por sorte).
– Olá, amiga, meus cumprimentos! Uma surpresa e tanto, dormir casada e acordar viúva, hem!? Deus sabe o que faz: antes ele que você. Parabéns, querida, sua viuvez está um luxo nesse tomara-que-caia! E o velório, então... Ah! um charme!

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