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domingo, 28 de agosto de 2011

Diário da Manhã - Dia 28/8/11 - Lêda Selma

Ave, Goiandira do Couto!


Em todas as minhas idas à Cidade de Goiás, nunca desperdicei a oportunidade de visitar Goiandira do Couto, para abraçá-la, ouvir seu riso hospitaleiro, suas palavras irrequietas. Uma das últimas vezes em que a vi, encontrei-a adoentada, porém, altiva; com o corpo enfraquecido, mas com o espírito forte; cansada, sem, contudo, perder a alegria. Uma Goiandira guerreira, com os sonhos acesos.

Figura carismática, falante, mulher simples, anfitriã notória pela recepção sempre carinhosa, a pequenina e lépida artista, expressão notável de nossas artes plásticas, perdia-se no tempo, recuperava as lembranças e liberava a imaginação, deixando-a zanzar pelas serras para recolher tons e histórias com que presenteava seus visitantes. E surgiam revelações fantásticas sobre suas peripécias artísticas, testemunho de seu amor ao ofício de descobrir, manipular e dar harmonia às cores brotadas da alma da areia. Goiandira, um dos mais valorosos símbolos da cultura não só goiana, pois Goiás, por seu intermédio, incontáveis vezes, ultrapassou longínquas fronteiras, não foi reverenciada, como merecia, em vida.

Em 2001, após visitá-la, publiquei, em meu espaço no DM Revista, a crônica Ave, Goiandira! Nela, eu dizia: “(...) Justiça seja feita: Goiandira é merecedora das mesmas reverências concedidas a Cora Coralina. Em vida, claro! Nada de “um dia”, ou “antes tarde do que nunca”. Melhor: antes hoje que amanhã... Portanto, deflagro, aqui, uma campanha: homenagear a caçadora das nuanças escondidas nas entranhas das pedras e da terra, a areeira-mor do cerrado, que dá luz, formas e vida a uma criação abençoada, que se mescla de tons e emoções, e se eterniza nas telas espalhadas mundo afora”. Meu apelo não ecoou. Excesso de ouvidos moucos? Agora, por certo, a memória da artista receberá as homenagens (???!!!).

A casa-ateliê de Goiandira do Couto, verdadeiro templo das areias travestidas em quinhentas e inúmeras cores, sempre foi um mosaico composto de inspiração, paixão, talento, sensibilidade, alegria. Lá, tudo transpira encantamento e arte, arte em sua forma mais original. E, tão doce quanto seus licores e “pastelinhos” (triste sina diabética: sequer, pude prová-los! Melhor confessar: ela, no escondidinho, dava-me um), era Goiandira, que recepcionava todos com o sorriso, os braços e o coração, carinhosamente, escancarados e em festa. E, mesmo que faltasse a seus visitantes e admiradores o dom para seu ofício, ela não se deixava intimidar: mostrava-lhes, enlevada e com a paciência à prova, sua técnica e tentava ensinar-lhes o jeito mágico de manusear a areia, com as pontas dos dedos. Todavia, quem nasceu para admirador, jamais chegará a artista, todos sabiam. Ela também.

A lisonja é o adoçante do ego. Assim, o meu, em uma das visitas a Goiandira, ficou todo adulçorado, além de engordecido: meigamente, disse-me, com o maior interesse e entusiasmo: “E os muros poéticos? Muito bonitos todos eles, enfeitam a cidade!”. E, apontando o DM, declarou-se minha leitora assídua: “É a primeira coisa que faço domingo”. Leda honraria, ledo privilégio! E, de ledice em ledice, curiosa, quis saber da especial anfitriã há quantos anos morava naquela casa. “Oitenta. Eu tinha seis quando vim para cá”, respondeu-me. Então, pensei: nossa, que fartura de anos! Haja anos para tudo, para mais um pouco e, ainda, com certa sobra, para alguma emergência.

Isso me faz abrir parêntesis para relembrar mais uma das tiradas do velho Antônio Soares, protagonista de alguns de meus contos: “Parei de fumar há setenta anos; a maleita me largou há sessenta e, já faz noventa, não tomo leite de cabra. Da pinga, me apartei pra mais de muito tempo: desde hoje, de manhãzinha!”. Eita, sogrão!

Saudade, sinto, daquela última manhã, tão calorosa quanto o calor de Goiandira, em que, com brilho de areia nos olhos e no riso, ela me deu o braço para caminharmos sobre o silêncio do rio, deitado sob a ponte e vigiado pela Casa Velha de Cora. Saudade do sonho goiandirano, verdebrancoazulcarmim..., em voo, feito ave, esculpido na tela.

O céu já ornou suas estrelas com areia de quinhentas e muitas cores. Em uma delas, cintila Goiandira do Couto!

Diário da Manhã - Dia 21/8/11 - Lêda Selma

DE VIROSE EM VIROSE...

Houve um tempo em que a moda era “problema psicológico”. De dor de cabelo até dor na unha. “Ah! isso é psicológico!”, dizia o doutor. Depois, o diagnóstico da vez, toxoplasmose. Não raro, percebia-se claramente que aquele nome estranho, perigoso e incomum, à época, nada mais era que um “quebra galho” para o diagnosticador. Tanto que a rotina, logo, logo, se consolidou: todo mal não imediatamente identificado recebia a tal alcunha. E, de tão comum, a doença ganhou popularidade e perdeu o status.

Hoje, a moda é virose. Fulano está com virose. Beltrano foi ao médico e o diagnóstico é virose. Massificação igual só no tempo do psicológico e da toxoplasmose.

– Não tô bem, seu dotô. Meu incômodo é a mardita escandescência!

– (Ai, ai, ai, ai, ai, que diabo é isso, meu Deus?) – pensou o médico. E, para safar-se da situação, engrossou a voz e tascou no paciente: – Virose. O senhor tem uma virose.

– Deve de sê memo, pruquê passei a noite todinha no banheiro descarregando o desarranjo, desocupando os intestinos, adjutorado por essa aí que o sinhô disse, a tar vi... vi..., mais conhecida como corredeira, carreirinha, ligeira, o senhor entende!

– Ah! sim, o senhor quer dizer diarreia!

– Quero, mas num se avexe não, pruquê gostei muito dessa boniteza aí, a vi... vi... cumo é memo, dotô?

É claro que, muitas vezes, o paciente deixa atabalhoado o médico, em especial o recém-formado, aquele de raízes e vivência metropolitanas, diante de queixas como:

– Vim, doutor, porque não aguento mais tanta dor na passarinha!

A saída? Arranjar uma virose para o doente.

– O senhor me ajude, doutor: durmo e acordo com minha pá dolorida.

Que jeito... Virose nele!

– Além da febre interna, do coração batecum, sofro de espinhela caída, doutor.

O jovem médico não titubeou. Tanto mal amontoado, só pode ser virose!

– Vim aqui, por causa da constipação. Comecei a padecer dessa moléstia depois que resolvi aquecer minha espinha. Maldita resolvição! Mal-avisada, saí do banho quente e um vento frio, de tocaia atrás da janela, me pegou bem no jeito... O resultado? Fiquei troncha, torcida, doutor, assim, de través, veja! Num periga ser um início de derrame, ou reumatismo no sangue, hem?!

Melhor, virose, coringa dos bons!

Nesse clima virótico, uma mulher gorda e sisuda chegou à clínica e encontrou a sala de espera lotada também de queixas, doenças, bocas vermelhas, falantes e palpiteiras. Amuada, acomodou-se numa cadeira, lá no canto e, em rodízio, contorcia as mãos e roía as unhas. Solidária, uma senhora aproximou-se e, logo, desentaipou as palavras:

– A senhora tá com jeito de aflita... Que mal lhe pergunte, qual o seu mal?

– Raiva!

– Vixe, Maria! Mordida de cão raivoso?

– Não, dona, de doutor rançoso. Tá vendo isso aqui, tá? Uma pedra do tamanho de um grão de milho, né não? Pois ela quase me matou de dor durante dois dias. Ainda bem que a desgramenta desistiu de apedrejar meu rim esquerdo, e resolveu procurar a saída. De tanto insistir, achou, e, aí, escapou ontem à noite, ufa! E sabe o que o maldito me disse que era? Virose!

– Virose?! Ah! isso me lembra um outro tropeção médico – e que tropeção! –, feio mesmo, daqueles inesquecíveis, de vermelhejar até cara de pau. A tropeçada, minha comadre, Maria da Luz. A pobre fez a consulta, porque sentia fortes dores nas cadeiras, um mal-estar danado, fartura de apetite e de tontura. Nenhum exame lhe foi pedido. Pressão avaliada, batidas do coração conferidas, apertões na barriga, e o diagnóstico: “Virose!”.

– Virgem Santa!

– Nem virgem nem santa! Tanto que, seis meses depois, com 51cm e mais de três quilos, nasceu uma saudável menina. E pra não desfeitear o médico, sabe que nome a comadre deu à filha? Virose!

sábado, 13 de agosto de 2011

Diário da Manhã - Dia 14/8/11

O INCÊNDIO

Lêda Selma

Parêntesis: este texto, dedico à escritora, Profª Maria do Rosário Cassimiro, minha amiga e confreira na AGL, a quem o Conselho Estadual de Educação homenageou, na última sexta-feira, pelos 60 anos de dedicação às causas educacionais. Referência da Educação, não só em Goiás, é uma das mais atuantes conselheiras do referido Conselho. Parabéns, professora!
Minha homenagem também aos pais pela data que lhes é dedicada. Que todos os dias sejam “Dia dos Pais” e que as bênçãos divinas os unjam diariamente.
Novamente ele, o velho Antônio, baiano de Urandi. Espirituoso, cativante, de uma simpatia à prova de idade, de humor e circunstâncias, era exímio trocador. Falante, como convém a um inventor e contador de histórias, notabilizou-se pela imaginação geradora de fantásticos “causos”, como dizia. Pois é, o velho nonagenário não poupava seus ouvintes de mais uma história estapafúrdia. Ah! e o detalhe comum: tudo acontecido em sua época de solteiro; assim, fazia-se dispensável a comprovação do fato por alguma testemunha. Eta embromador espertalhão!
De riso sempre matreiro, afeiçoado a uma cachaça das boas. Segundo seus ensinamentos cachacísticos, “um trago de manhã, bem cedinho, cura gripe e resfriado; um, à tarde, é bom pra reumatismo, e outro, à noite, é tiro certo na fadiga e em doença macha, aquela de homem que se esbaldou na zona. Se a dose for dupla, descontada a cota do santo, ressurge até moleza de sujeito cuja macheza perdeu o prumo. É mesmo milagreira, é pau e tombo a danadinha, mas olhe, tem que ser pinga das boas, com jeito e sabor de mulher safada e treiteira, aí sim, a gostosa escorraça até essa tal de AIDS”.
Pois bem, numa noite de lua gorda e faceira, cheia também de mistérios, encantos e luxúrias, o velho Antônio, que teve tão pouco tempo para o sonho e tanto para o trabalho na roça, chega ao boteco para a trivial visita vespertina. Reativadas as lembranças, retoma o passado, recria fantasias e, com a emoção recarregada e ungida pela “moleca fogosa”, ou seja, a polivalente cachaça, veste de fantasia mais uma história, desafiando o real em favor do absurdo:
– Eu era solteiro ainda. Uma noite, Nossa Senhora das confusões! Fogo que não acabava mais. Parecia o inferno saindo das profundas. Gritei que nem um louco: valha-me Deus, estou perdido desta vez! O pequeno cômodo em chamas, chibatado por labaredas pra lá de dez metros, era o guardião de minhas reservas: duas bandas de leitoa, réstias de alho e de cebola, sacos de sal, carne de sol e almôndegas na banha e farinha de macaxeira. E o fogo, maluquecido, corria de um lado pra outro, trepava no telhado, crepitava, uma visão de doer até os olhos da alma e o peito. Fechei os olhos, cochichei com meu coração, já desabalado qual meliante em fuga, ou foragido da seca, aprumei a coragem e entrei pra ver os estragos.
– E a proporção do incêndio: destruição total? – a pergunta coletiva.
– Acho que foi milagre, só pode ter sido! Quando entrei no galpão queimado, quase morri de espanto: a leitoa tava assada – crocante! – ; a carne de sol, cozida – cheirando a mulher no jeito – e a farofa, então, ah! uma delícia! Tudo bem temperadinho, no ponto! Não tive escolha: jantei de novo, lá mesmo, eu não ia perder uma comidinha supimpa daquelas, preparada pelas mãos do Pai, que eu nem sabia cozinheiro.
– Fala, velho embromador! – suplicava um ouvinte, rateando a voz de tanto rir –, conta preles como o senhor lida com a morte...
Zombeteiro por demais, e com o respaldo de seus tantos, e tantos, e tantos anos, atende o pedido, já garantindo que a morte lhe tem muito respeito, e, desconfia, até um certo apreço, “acho que a traiçoeira até tirou meu nome da sua fatídica agenda de serviços”. E, mandando a modéstia “lá pras bandas de pra lá de bem depois”, como costuma dizer, vangloria-se, pela ducentésima vez, de suas artimanhas:
– Não morro fácil não. Tenho um feitiço infalível que engana e espanta a macabra. É pau e tombo! Quando ela insiste em me aporrinhar os miolos, encho o nariz de simonte...
– Simonte...?! Que diabo é isso? – quis saber alguém.
– Amostrinha, rapé, ora essa! Como dizia, encho o nariz com a tal, e não paro mais de espirrar. É que a morte morre de medo de espirro, num sabe? E enquanto estou espirrando, a diaba não se aprochega, fica longe, que ela num é besta nem nada.

POEMAS DE LÊDA SELMA

RUÍNAS









Há um poço de fundura íngreme,
um abismo em teu olhar.
Um vazio metálico, punhais
e um medo mais profundo ainda.


Rios escondem luares
e ruínas de noites, em teu olhar;
e meu olhar penetra a solidão
que neles busca sossego.

Um jeito triste de névoa
e turbulências de dores
desamparam teu olhar,
que não sobrevive ao meu.

Há um poço de fundura íngreme,
pedras de corte,
farpas e chispas, em teu olhar.
E um abismo entre nós.

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VOLTA




Esta clareira aqui, sob o peito,
tem vazios, valas, lonjuras
e fósseis de amores tardios.

Nem mais ouço os alaridos
de minha carne chamuscada
sobre as peliças de outrora.

Mas sinto o rodopio do vento
grimpar ladeiras e flancos,
com a saudade nos ombros.

..........................................................................
TEMERIDADE








Pelos vãos de meus dedos,
passam cismas, fogem tramas
e sossegam pensamentos,
todos, crias do acaso.

Nos vincos de minha boca,
beija-flor colhe palavras
e poliniza saudades
que se foram nas tramóias
dos ocasos de passagem.






sábado, 6 de agosto de 2011

Diário da Manhã - Dia 7/8/11

ENXERIMENTO E DISTRAÇÃO


Lêda selma

Tão logo voltou de mais uma viagem, o fazendeiro Generoso dos Santos encontrou algumas pendências à espera de solução. Sentou-se em sua cadeira de palhinha, assumiu um ar sisudo, encheu o nariz de rapé, esperou o imediato efeito, tossiu sem necessidade, pegou a caneta tinteiro e começou uma carta: “Caro compadre e amigo Zeferino Canavieiro: chegando de viagem, encontrei certas pendengas que preciso discutir com voismecê, e a urgência é tamanha. Refiro-me àquelas terr... Bem, encerro o que mal iniciei, assunto tão importante, quanto urgente, porque meu hóspede, compadre Capistrano das Antas, com seu enxerimento conhecido e sua deseducação indigitada, está atrás deste que vos fala, xeretando a correspondência alheia. Assim, interrompo estes escritos até que ele desconfie da inconveniência, deixe de ser intrometido e se tresmalhe para os confins dos infernos com sua curiosidade. Mais tarde, já em meus aposentos, e livre da xeretice do tal compadre, vou fazer o que não me foi possível agora. Abraço do compadre Generoso dos Santos”.
Tudo de mais esdrúxulo acontecia na pacata cidadezinha “Esconderijo da Lua” e, mais especialmente, na fazenda “Aconchego dos amigos”.
Inocêncio, um baiano simpático e falante, também compadre do fazendeiro e seu visitante assíduo, tinha uma explicação, pelo menos insólita, para o nome da cidade: “Um pescador, jogando paciência com a paciência, enquanto espreitava o peixe, viu o céu, de repente, escurecer, as estrelas se entreolharem e um vulto se esgueirar por entre as moitas. Largou a vara de pescar no barranco, encheu a coragem de virilidade, e foi ao encontro do acontecido. E então, aparvalhado, deu de cara com a lua escondida no barranco e de safadeza com o rio. Não é que a preguiçosa, mesmo de plantão, dava um jeito de matar o serviço e ficar de dengos com o amado?”.
De certa feita, em mais uma noitada entre amigos, o também fazendeiro Simplicio da Silva, notório por sua distração sem rédeas e seu jeito simplório e desenxavido, após muitas horas de prosa e várias garapa (era abstêmio), despediu-se de todos, com sua tradicional justificativa: “Vou indo, antes que a noite espiche seu rastro lá pras bandas de casa e meu cavalo refugue ao passar pela beirada do rio onde as almas penadas se banham”.
Mal chegou em casa, sentiu falta dos seus “para-brisas-de-olhos”, ou “óios avursos”, e matutou, matutou, até concluir que os tinha esquecido na fazenda “Aconchego dos amigos”. Rapidamente, pegou um papel bastante roto, afinou mais a ponta do lápis, coçou a testa como se ativasse o pensamento e escreveu: “Caro compadre, amigo e vizinho, Generoso dos Santos, que o dia de amanhã lhe seja propício. Desculpe o cedo das horas para a chegada de meu agregado, peão Chico Vesgo, mas estou carecendo de um adjutório do compadre. Por gentileza, espie no peitoril do alpendre se encontra meus óculos; acredito que eles pernoitaram aí. Se encontrar, mande os folgados de volta pelo mesmo portador. Agradecido. Abraço do comp... recolho, por enquanto, o abraço, por carecer de um P.S.: me desculpe por remendar essa missiva, é que acabei de passar a mão pela cabeça e achei os perdidos. Dispenso, assim, o amigo do incômodo e da trabalheira de procurar o que eu próprio já achei. Agora, lhe devolvo o abraço. Deste seu criado, Simplício da Silva”.
Mais uma reunião na fazenda “Aconchego dos amigos”, em noite calorenta. De repente, todo esbaforido, apareceu o tal peão, Chico Vesgo, que acabara de ser flagrado, literalmente, com as calças na mão, por um recém-chegado visitante (e, ao contrário do que pensou, o homem nada tinha visto, além de suas calças arriadas), e, apavorado, com a explicação engastalhada na língua, gaguejou: “Não tive culpa, juro! Pensei que fosse uma assombração desavergonhada, nuinha, com as intimidades dianteiras e traseiras balangando pra me atazanar a macheza, e, quando dei fé, tinha encarado a tarada, até porque nunca tive medo de assombração. E só depois do sucedido, foi que descobri: a assombração não era assombração, era a mulé do senhor!”, e apontou para o visitante.