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terça-feira, 20 de julho de 2010

BRASILEIRO: CARICATURISTA NATO

Lêda Selma


Caricaturista tope de linha, de primeira grandeza, sem dúvida. Por mais que as coisas desandem ou transviem, sua imaginação está ali, acocorada, à espreita, maquinando jogos de sentidos e de palavras, traçando burlescos esboços sociais, religiosos e políticos, satirizando situações, pessoas, autoridades e suas circunstâncias. Enfim, o brasileiro é notável no ofício de caricaturar. Vez ou outra (ou em sempre?!) também meu verbo comete algumas irreverências com panca de caricatas. Compreensível: sou brasileira e, ainda por cima, baiana goianizada. Vixe! Uai, queriam então o quê?!

Já falei, refalei, repeti sobre o jeito eufêmico (e, quase sempre, hipócrita) com que alcunharam certos “tabus” do nosso cotidiano, alguns até amparados por lei, sim senhor! Preto, agora, é referência de cor só para roupas, sapatos, objetos. Para a pele (humana, bem entendido) a ordem é sofisticar, usar formas antidiscriminatórias ou oficialmente corretas, asseguram: “afro” (brasileiro e outros tantos afro-descendentes). No paralelo, ou seja, extra-oficialmente, tolera-se: “torrado”, “marrom-bombom”, “achocolatado”, “escurinho”, “moreno-chegado”, “negritado”... Isso, dizem, não ofende nem discrimina, apenas, sugere a cor sem pronunciar a fatídica palavra, a tal proibida. No mesmo pacote, estão pessoas com necessidades especiais (os, outrora, deficientes físicos); o menor foi apreendido (recolhido a outro tipo de prisão) e por aí vai... Os adeptos destes escapismos não percebem que, na realidade, a hipocrisia está aí caricaturada e, muitas vezes, não só discriminam, mas, sobretudo, ridicularizam, pois soam irônicas, debochativas.

Será que, por isso, já se tornou nem tão incomum a desonestidade usar terno e gravata, toga, apito, mandato, colarinho branco...?! Ih! ela também adotou vários e risíveis codinomes: corrupção, propina, convocação extra, conchavos, alinhavar acordos... Mas nem tudo mudou: excelência continua excelência; meritíssimo, meritíssimo; senhoria, senhoria; meliante, meliante. Roubo e desvio é que ainda tentam um acordo...

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