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terça-feira, 29 de novembro de 2011

POEMAS DE LÊDA SELMA

NEM SEI DO AMOR...



Escondi atrás das sombras,
teu silêncio arredio.
E o vento que te fez pua
teceu farpas, enredou sedas
nos sonhos esmorecidos
em fartas plumas de luas.

Traguei teus restos de nadas
e bani a dor que era tua.
Fisguei de teus olhos, vontades,
e de teus guizos e risos
fiz música, provei prazeres
e me fartei de saudades.

Agora, revejo instantes
e me imanto no encanto
que rabisquei em teu corpo
quando meu corpo sonhava.
Nem sei do canto esquecido
no canto em que deixei perdidas
as sobras de tuas luas...

Nem sei do amor que nem sei
se escapuliu ou nasceu
naquela tarde vadia.
Só sei dos sonhos que sinto,
e desta ferida vermelha
– bem aqui do lado esquerdo –
mofando em meus labirintos
e me vigiando de esguelha.
Só sei das dores que espanto
e dos medos, inda tantos,
suados de amor e vinho.



TERRA-MÃE




Das estrias da terra,
a vida em floradas de trigo,
e o grão germinando vidas,
desnuando sonhos
e saciando silêncios.

Das funduras da terra,
o sustento à espera
de mãos parideiras
que sopesem dores,
silenciem sedes,
aparem estrelas.

O homem sua, e sangra,
e mistura suas dores
às vísceras da terra,
para adubar colheitas
de floradas vindouras.

É o rito da vida,
é o ciclo da espera,
é o esterco humano
pulverizando a fome.

domingo, 27 de novembro de 2011

Diário da Manhã - Dia 27/11/11

DE NOVO, ANUNCIATO...

Lêda Selma

Anunciato, o mensageiro-mor das notícias indesejadas e especialista na arte de “encurtar a distância com o primeiro atalho”. Sim, aquele que, incumbido de comunicar a certa mulher o falecimento do marido, chegou, tocou a campainha e foi logo “desembrulhando a incumbência”: – A senhora é a viúva do Zequinha Amado? –. Naturalmente, desentendida e alarmada, a mulher disse “Não!”. E ele: – Não? Hum... Quer apostar?!

Pois bem, Anunciato, com aquele seu jeito mal-ajambrado, olhar faiscante e nenhum riso atrás do humor desajeitado, não se constrangia em carregar as “malfeitanças da vida” e entregá-las, fresquinhas e de supetão, a quem de direito ou de merecimento.

Também foi assim com o velho Leocárdio, homem solitário, carente de posses e plantador de milho. Bem cedinho, e já na lida, foi abordado por Anunciato: – Olá, velho madrugador! –. Recebido com um alegre “Bom-dia!”, o desapiedado transportador das funestas notícias retrucou num fôlego só: – Eu ouvi “bom-dia!”? Se eu fosse o amigo, desaceleraria esse tom alegre e tamanha empolgação... A propósito, ao sair de casa, hoje de madrugadinha, a tal ainda estava de pé? Pois esse é o problema: não está mais... Por obra e culpa de um incêndio besta, a pobrezinha arriou... Foi-se, mas sossegue, ela deixou vestígios.

Por tudo isso e muito mais, Anunciato recebeu vários epítetos: “Reencarnação do azucrim”, “Possuído das trevas”, “Mensageiro dos infernos”... Mas nunca se abalou com isso, convencido de que simplesmente cumpria o que sua lúgubre sina lhe determinava. E sempre com a mesma justificativa: “O pior é o acontecido e não, o repassado. E o melhor é engolir tudo de uma só vez do que ficar engasgado”. E, enquanto filosofava com certo deboche, esperava a chegada do imprevisível para, de novo, entregá-lo a seu destinatário.

Anunciato tinha lá seus vícios. Chegadinho numa água que mandacuru abençoa, ou seja, a famosa cachaça, Anunciato também se afeiçoou ao jogo, de forma perigosa. Jogava tudo e de tudo, tanto na calada das noites, quanto na barulhada dos dias. O importante era jogar e, se possível, maquiavelar estratégias para encher os próprios bolsos e os de seus parceiros; naturalmente, um ato “patriótico”, ora! E o Brasil deveria orgulhar-se disso, apregoava, afinal, “encher os bolsos é um jogo que sempre anda muito em voga cá e acolá”, era seu mais consistente argumento.

Todavia, é sabido que, nem sempre, o mar, ou melhor, a mesa está para jogo. E nunca é demais saber: um dia é do vivaldino e o outro, do destino. E Anunciato, como todo jogador, foi surpreendido, certo dia, em altíssimo tom, para alegria de muitos. Uma surpresa e tanto, daquelas de despachar qualquer um, às pressas, para os domínios de pra lá de bem depois, vulgo, além. Qualquer um...? Não Anunciato.
Mesmo perdido quase tudo o que tinha, o que não tinha e o que pretendia ter – ficou mais liso que búndegas de recém-nascido –, ainda se valeu do curinga saído de um de seus esconderijos, tão logo o ganhador concedeu-lhe um prazo para a quitação, apesar da exigência de um imóvel para salvaguardar a dívida.

Anunciato não se fez de pressionado. Prontamente, acedeu à exigência de seu credor, porém, com uma ressalva: que não fosse a casa onde residi, há mais de sessenta anos, herança paterna de valor afetivo inavaliável. Hipotecaria outro imóvel, de valor apenas pecuniário, situado em avenida tranquila, arborizada e de fácil acesso. Congestionamento? Só de pedestres, às vezes. Assim, acertaram o dia e o horário em que iriam ao cartório efetivar a transação. E foram...

Dois dias após o encontro – malfadado encontro, frise-se –, Anunciato acordou com o corpo ainda bastante dolorido e a cabeça bem confusa. Três espreguiçadas e algumas bocejadas depois, heurecou: o motivo de toda aquela estropiação corporal, umas coronhadas generalizadas, por obra e desgraça do tal credor. O homem, furioso, coronhou a cabeça, adjacências e periferias do agourento devedor, ao descobrir o tipo e a localização do imóvel que lhe foi dado como pagamento da dívida: um jazigo, com três hóspedes, no cemitério local.

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Diário da Manhã - Dia 13/11/11

NÃO RIAS DE MIM, ARGENTINA!

Lêda Selma


Uma semana em Buenos Aires – buenos y fríos aires! – apreciando as belezas e o clima portenhos. O dia da chegada, a princípio, pareceu-me inoportuno, pois Cristina Kirchner pleiteava reeleição à presidência da Argentina. No entanto, tudo transcorreu no ritmo rotineiro, e, do processo eleitoral, nem indício. A não ser pela “Lei Seca”. Nada de bebida durante o dia, só após às 20h, apregoavam. Porém, à moda ‘jeitinho brasileiro’, ao final da tarde, alguns barzinhos e ‘empanaderías’ liberaram, de forma velada, assim, debaixo da lei, a bebida alcoólica. E quem estava sedento por ela, saciou a vontade, bem à vontade.

Parênteses: de mamando a caducando, do inculto ao intelectual, por lá, não se usa presidente, é presidenta mesmo, e para qualquer mulher que ocupe a função de presidir, não importa o quê. Tampouco, ouvi sandices modelo “eleganta”, “doenta”, “pacienta” e outras aberrações tão usadas por aqui, como forma de comparação, com o fito único de ridicularizarem o uso legítimo do vocábulo feminino (e não é que já infestaram de novo minha caixa com textos com tal conteúdo?!). Pois é, los hermanos não praticam essa modalidade de asneira, essa bobajada sem eira nem beira, ao contrário, mostram-se civilizados, bem informados e, sem dúvida, respeitam e acreditam nos dicionários. Bem como os franceses, é bom que se diga.

Bela, elegante e pomposa, como sempre, Buenos Aires! Avenidas de pernas esguias e coxas largas, assediadas por uma arquitetura exótica, eclética, que abarca variados estilos (colonial, neoclássico, art nouveau, art déco, moderno), cuja história esculpe personagens, e cuja memória desperta patriotismo. Um rosto de sol, incrustado no azul e branco da bandeira, tremula altivo, e doura a dignidade e o orgulho argentinos, sempre expostos. Exacerbada, a índole nacionalista desse povo.

O tango, seu genuíno patrimônio cultural. Emocionante cada espetáculo, pela beleza plástica, pela presença cênica, pelas coreografias, pela leveza dos pares. Momentos plenificados na sensualidade. Os toques, o olho no olho, os corpos colados a roçarem intimidades, pernas entrelaçando-se em malabarismos instigantes, contorções voluptuosas, embevecidas pela música, enfim, uma conjunção de arte e de paixão. O tango tem alma rubescente que incandesce ao primeiro contato. Ah! e aquela dançarina linda, porte de rainha, vestido vermelho com fenda enorme a lhe devassar a perna e o caminho das flores, ao som de La Cumparsita, enroscando-se, lascivamente, em seu parceiro... As fantasias da plateia também rodopiam entre os passos do casal.

A carne saborosa e suculenta, de estirpe nobre, assim como o Dulce de leche, tombados pelo gosto dos que se curvam às suas delícias. O sorvete artesanal da Fredo (de doce de leite, claro!, em suas muitas variantes), um desafio, já não fosse um acinte, à disciplina dos diabéticos e à dieta dos gordalhufos. Por falar em gordalhufos, Maradona, outro patrimônio nacional.

O peso do peso argentino, nem tão pesado assim, um detalhe interessante, embora alguns comerciantes tentem engambelar o turista com o intuito de um ganho a mais. Todavia, fato desconcertante e injurioso, o derrame de notas falsas. Centenas habitam os bolsos dos taxistas. Inacreditável. E o pior: todos estão cientes disso, já se tornou fato corriqueiro. Os próprios hotéis alertam os turistas para os cuidados necessários. Quase ninguém fica imune a tal agressão. A estratégia é afrontosa: o taxista recebe a nota, troca-a sem ser percebido, devolve-a ao passageiro, sob o argumento de que é falsa, e exige-lhe outra. Desse modo, cobra a corrida duas vezes e, de sobra, o lesado fica com a nota falsa.

Algo incompreensível: por que a polícia e o governo fazem vista grossa a esse tipo de crime? É sabido aqui, lá, acolá, que pesos falsos, em fartura, fazem parte da rotina dos condutores de táxis e, mesmo assim, a impunidade grassa majestosa nas ruas de Buenos Aires, incentivando-os a uma prática criminosa que enodoa a honra argentina. Por que tal conivência? A cumplicidade, explícita na falta de ação das autoridades competentes, é intrigante. O turista não merece tamanho desrespeito. Portanto, não rias de mim, Argentina!

sábado, 5 de novembro de 2011

Diário da Manhã - Dia 6/11/11

SONSO?! DE JEITO E MANEIRA!

Lêda Selma


Sonso por conveniência, nordestino de nascença e curioso por vocação, desde criança, ele queria porque queria ser padre. Achava bonito aqueles homens embatinados e de semblantes sisudos, zanzirrezando, de um lado para outro, com as mãos enlaçadas ora na frente, ora atrás do corpo, olhos estatelados no chão e um alheamento de fazer gosto. Tampouco, cansava-se de apreciar, mesmo de longe, a rotina matinal dos padres, no pleno gozo do desjejum. De encher a boca e atiçar o estômago! Não que fosse comilão – os padres, sim, por fama ou tradição, sabia lá –, apenas, gostava de degustar mentalmente toda aquela fartura.

O menino propagava sua vocação sempre. Melhor, então, estagiar como coroinha – sugeriu um vizinho –. Depois, ascenderia a sacristão e, mais tarde, após o noviciado, ordenar-se-ia padre. Pensamento acionado, ação ativada. De imediato, carecia de certa intimidade com os rituais da igreja. As ladainhas, ah! decoraria todas! Algumas, até em latim, caso necessário; a preparação do altar para as missas e celebrações, outro passo importante do aprendizado. Enfim, prestaria muita atenção a tudo e, com destacado esforço, logo, logo, estaria afiado para a nobre função. E assim, o menino com jeito de sonso começou a envolver-se com as coisas relacionadas à igreja, o que provocou bastante entusiasmo no vigário. Alguns duvidaram de que aquele menino bronco fosse talhado para o ofício.

Não tardou nada, ele se arvorou em coroinha, com todo gosto e orgulho. Nas liturgias, vestia-se de branco (à moda camisolão), inundava o rosto com um ar de contrição e nos olhos deixava um brilho chamejante exalar alegria. O menino parecia anjo nessas ocasiões. No tempo vazio, arrumava o altar principal e os adjacentes, trocava os ornamentos, higienizava as imagens, fazia tudo o que um candidato a padre devia saber, exaltava-se todo confiante.

Certo dia, a empregada da casa paroquial abordou-o, indignada:

– Filhote de Cruz Credo, quem mandou você bulir com a Eulália? A pobre ficou toda amassada por causa de sua malinagem! E agora, perdeu o prumo. Nem pode mais ficar na igreja. O vigário vai saber...

– Eu, dona Santinha? Eu... eu nem conheço essa tal aí, juro! Também, não ia bulir com ela de modo algum, porque desejo ser padre e padre não tem tino pra essas coisas, não pode praticar essas bulições, ora! A moça tá mentindo, juro!

– Mexeu sim, seu canhudo (mistura de canhim com rabudo), e não jure falseado! O vigário vai lhe retorcer as orelhas e lhe arrejeitar pra bem longe, viu, enxerido! Moça...? Que moça?!

– A tal Eulália, ora essa!

– Não se faça de sonso, malino! Não falei de moça, falei da Eulália, que estava ali, ó, quietinha, naquele vaso vistoso, ladeando o altar, com suas flores avermelhadas.

Enquanto concluía os primeiros estudos, o menino resolveu trabalhar. Na padaria de “seu” Bruno, o italiano gordalhufo, estreou como assistente de padeiro. Porém, do que gostava mesmo era de entregar os pães à vizinhança, bicicletiano em sua magricela azul e de senilidade à vista. Assim, mal a manhã se arregalava no céu, rodas à obra.

Num certo dia, freguês novo. De riso escancarado e fala possante:

– Fico com os pães só se o pagamento for por quinzena.

– Por quinzena? Hã... por quinzena... Ah! sim, quinzena... (Ai, Santo protetor dos desvocabulados, diga-me, por misericórdia, o que é quinzena?). Se quiser, pode ser também por novena, trezena, tanto faz!

Aos treze anos, foi para o seminário. Lá, diziam que, ao ser ordenado, o rapaz submetia-se à castração. Temeroso, matutava: “É certo que meu patrimônio não tem utilidade para as funções sacerdotais, mas, por garantia, gostaria de preservar o inútil, pois vai que, lá na frente, lhe apareça serventia...”.

Apesar da dúvida, a ordenação. Uma cerimônia solene, emocionante. Sobre o tapete vermelho, deitado de bruços, forma de cruz, em sinal de humildade, o rapaz sentia a aflição cutucar-lhe o “patrimônio”.

No cumprimento do rito litúrgico, o bispo pedia: “Alva”. “Estola”. “Turíbulo”. “Mitra”. “Capa”.

– Epa! Capa?! Vixe, chegou a hora...! Melhor, desabalar-me em correria e salvar meu patrimônio. Capado? Nem pensar!

Diário da Manhã - Dia 30/10/11

CUIDADO COM A MENTE QUE O PENSAMENTO É DE BARRO...?!

Lêda Selma


Em um daqueles domingos desfrutados no clube, certo amigo, homem de idade grisalha, porte e cabelos acanhados, olhar tateante e fama de mulherengo, chegou afobado, devido ao adiantado da hora, pois a tarde já se alaranjava em arribada. Mal acomodou-se à nossa roda, foi logo engatando uma esdrúxula prosa:

– Pensei não encontrar mais os amigos aqui. Todavia, meu atraso tem nome: ressaca! Também, depois dos excessos de ontem à noite... É, tirei a vontade da miséria, e que vontade gulosa... É, já não era sem tempo...

– De que vontade está falando, homem?!

– Bem, tudo começou já no amolecer da tarde, quando parti para uma emocionante aventura, dantes jamais experimentada. Ah! sim, um detalhe importante: passei toda a semana empanturrado de desejo, doidinho, doidinho, por uma frangota jeitosa que, há alguns dias, gingava toda faceira e cantarolante pela vizinhança! Então, decidi ir ao seu encalço; precisava domar aquela morena gostosa, de coxas firmes e roliças, peitinhos apetitosos, ancas fartas e insinuantes... Hum, toda aquela suculência em pleno fulgor da juventude...! Quem sabe, ainda virgem, aquela criatura encantadora, imaginei. E isso instigou-me ainda mais o olho gordo e a vontade gulosa...

Tamanha sem-vergonhice atiçava os homens, cúmplices e invejosos da saga do falastrão, a obscenos “Oh!”, “Hum!“, “Ai!”, completamente extasiados com o que ouviam. Indigneu-me:

– Que sujeito mais sem tipo, você, hem?! Credo! Nem a idade lhe sugere o senso do ridículo!? Imagine só se alguma menina lhe daria trela!? Melhor conter-se e tomar tenência, isso sim!

E os homens, com a curiosidade aguçada, animavam o conquistador-mor do cerrado a encorpar ainda mais a voz e cantar de galo, a valer:

– A belezura bem que insistiu em escapar – só para fazer gênero, claro! –, mas, com astúcia, persistência e fôlego, venci a fujona. E já nos meus braços, embora ainda vacilante, talvez por temer o previsível desfecho, propus-lhe uma fuga glamurosa. E, como quem cala consente, já que espernear não me soava como legítima resposta, raptei a donzela numa carreira só. À moda princesa, carreguei-a com pompa e cuidado. Pronto, estávamos em casa. Ilesos.

– Em casa, ilesos... Baita aventur! – alguém da turma entusiasmou-se.

– Continue, vamos! – outro insistiu.

– Bom, após aquelas preliminares indispensáveis, deitei a dengosa no jeito e dei-lhe o trato esperado. Ela gemeu, estremeceu e, rendida, aquietou-se. Em seguida, o banho, o mergulho naquela água escaldante, hum...! E eu a desnuá-la, a tocar-lhe a carne de quentura e maciez tamanhas. E meu desejo, ali, indomável, à flor dos olhos, das mãos, da boca... E entre uma mexida e uma virada, o vinho a festejar minha inusitada conquista. Enfim, ritual consumado... E meu prazer, aos pulos, celebrando aquele desbragado gozo... Um gozo celestial, benza Deus!

Não aguentei e, de novo, interrompi-o incisiva:
– Que falta de compostura detalhar uma noite tão íntima e lasciva! Coisas pessoais, além do mais, dessa natureza, devem restringir-se aos interessados. Olhe, um homem de tal idade precisa dar-se ao respeito em vez de se enaltecer por seduzir mocinhas incautas e indefesas, mesmo que tudo não passe de fantasia, de imaginação, pois, como lhe disse, descreio de seus feitos libidinosos. Afinal, quem revigora velho é geriatra, ouviu, velho devasso?! Francamente...

Uma outra amiga, mulher de um daqueles tais cúmplices, invejosos e extasiados, também repudiou, possessa, aquela apologia injuriosa a um descalabro sexual de desmedido porte. E foi então que o libertino, com todo o desdém arregalado no riso baço e atrevidamente graúdo, debochou de vez:

– Calma, calma, senhoras, que braveza é essa?! Confesso: errei! E até me penitencio. Fui inconsequente e irresponsável. Sem dúvida, molecar desse jeito não combina com minha idade, todavia, a vontade é fraca, fraquejei, cometi uma leviandade, porém, valeu a pena, e, agora, de nada adianta chorar sobre o malfeito perpetrado. Mas, cá pra nós, que aquela franguinha roubada deu um baita molho pardo, ah! isso deu!