POEMAS DE LÊDA SELMA:
O SILÊNCIO
O silêncio é sarcástico:
se cínico, entorta mentiras;
se cético, morde risos;
se sóbrio, camufla verdades
expostas em sorrisos
ocultos na alvura do nada.
PECADO DE AMOR
Zeus quedou-se em agonia
ao se apaixonar por Leda,
bela humana, mas não, deusa.
Como Zeus, o deus dos deuses,
amaria tal mundana?
Ah! que sina tão medonha,
que amor mais desvalido,
um deus, ali, combalido,
por um amor doidivanas!?
– Pecado de amor é fastio
em banquete de maçãs,
é espora mordendo esperas,
é corredeira de rio,
é palavra em carne viva,
oblação que chegou tarde –
gritou Zeus, em desvario,
carregando Leda nos sonhos.
Um vento morno de estrelas
rodopiou noite inteira,
e roubou da madrugada,
onde a lua espreguiçava,
penugens lindas de hortênsias,
para a alcova ou a mortalha,
o que o destino escolhesse.
– Destino...?! Traçarei sua trilha! –
decidido, Zeus bradou,
pronto para aliciar o destino
pelo amor da humana deusa!
E em meio a um céu de opalas,
em noite alcoviteira,
um cisne todo galante
amou Leda impunemente...
Ah! que sina venturosa,
que abastado prazer:
um deus, ali, feito em cisne,
e um templo feito em mulher!
FÚRIA POÉTICA
O poema arregalou a boca
e mostrou-me terríveis mandíbulas,
enquanto seus dentes rilhantes
trituravam-me as palavras.
E os estilhaços dos versos
fugiram desarvorados,
em rastejos se lançaram,
e sumiram dor adentro.
AMOR E SAUDADE
Não sei dos rouxinóis
que te fugiam da boca
e pousavam em meu pescoço...
Não sei das ramagens de seda
que se erguiam em teu corpo
e me cortejavam o desejo...
Não sei do suor goteirando
– de alguma calha da lua –
em nossos corpos de vidro...
Só sei desta saudade matreira
– que ainda me sacode e incita –
e deste amor quase morto.
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