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sexta-feira, 3 de setembro de 2010

SONHO E POESIA NÃO COMBINAM COM FUTEBOL BUROCRÁTICO
Lêda Selma
“Para mim, o futebol é arte, é um jeito especial de dançar, de fazer malabarismos, de poetizar com os pés, com a cabeça, com asas invisíveis. Não teria sentido se assim não o fosse. Até porque o mundo não transformaria em deuses simples apaixonados pelo ofício de conquistar a bola, enfeitiçados por ela, nem, tampouco, cultuaria um esporte que se limitasse a um amontoado de perseguidores disputando, sôfrega e aleatoriamente, um pedaço redondo de couro. A reverência é, sim, a um esporte capaz de entrelaçar raças, credos, culturas, posições sociais, um esporte quase oracular, misto de mítico e de místico, sem trocadilhos.
Sempre vi o futebol como espetáculo de vibrações e de cores, de emoção, de corações desafinados, movidos pela paixão, amotinados e prontos para saltar no gramado, quer para reger a chuteira, quer para hastear a camisa, quer para empurrar o time. São noventa e alguns minutos (incluídos os acréscimos e não, os “descontos” como apregoam alguns narradores) de devoção à bola, de confronto entre defesa e ataque, de aflição, de transe para a torcida. Ah! e de desalento para o goleiro! Afinal, que solitária dor, a sua, quando a bola, toda sem-cerimônia, ultrapassa seus domínios. Cabisbaixo, sofre, como se traído, e, em rito quase fúnebre, retira, desconsolado, a leviana da rede.
Futebol é urdidura de momentos intermináveis, permeados de alegria e de tristeza, de assombro e de deleite, de decepção e de glória. É uma confraria de sentimentos contraditórios e indomáveis, conjunção de dor e prazer, ritual em que o mago e a bruxa se defrontam e se desafiam. Nele, refugiam-se ansiedades e expectativas, agonia e redenção, sonhos, quedas, voos”.
Este texto é parte da crônica “O bom filho a casa torna”, publicada em 6 de fevereiro de 2009, quando, a convite do recém-eleito presidente, Dr. Syd de Oliveira Reis, a quem apoiei, independente das composições feitas para elegê-lo, retornei ao Goiás, após seis anos de ausência, apenas física, diga-se, pois meu coração continuou presente, sofrendo, alegrando-se, conchavando-se com os santos e orixás, torcendo pelo Verdão, o maior bem da família esmeraldina, motivo por que sempre o coloquei acima das discórdias.
Retornei, com muita alegria, ao nicho esmeraldino, como Coordenadora Cultural do Clube, criação inovadora do presidente. E assumi o cargo com muito entusiasmo, permeado de sonhos e planos, sempre motivada pelos sonhos e projetos de Syd de Oliveira Reis, um presidente sonhador, um presidente amante da poesia, da poesia que também joga futebol, do futebol que também compõe poesia. Um presidente que liberava seus sonhos mesmo sentado na cadeira de presidente da maior representação futebolística do Centro-oeste, o Goiás Esporte Clube. Todavia, sonhar, poetizar, voar, a bordo de um mundo tão materialista, como o futebol, cuja objetividade chega a ser cruel, é leda fantasia, é loucura de poeta, uma loucura, quem sabe, até por excesso de lucidez...
Despedi-me do Departamento Cultural do Goiás. Retirei de minhas gavetas os sonhos que lá se hospedaram. Dr. Syd, sem dúvida, também recolheu os seus.
Se poesia não sobrevive à frieza do gabinete – tão desprovido de emoção! –, se não é o idioma do futebol burocrático que, além das quatro linhas, é pedra bruta, não tem versos, é feito de malícia, de reversos, de artimanhas, de pecados capitais, realmente, não há lugar para o sonho, para a ingenuidade, para a pureza de espírito e, tampouco, para um presidente sonhador e amante da poesia. Então, que sobreviva a arte no talento dos jogadores, na magia das jogadas, no pulsar do distintivo sobre o peito. Que pés e cabeças poetas retornem ao seu ofício, e teçam gols e vitórias para alegria e orgulho da comunidade esmeraldina.
Syd de Oliveira Reis teve como algoz seu sonho. E bebeu o veneno que pensava ser poesia.
“Eu sou Goiás Esporte Clube, eu sou Goiás”...

Um comentário:

  1. Lêda Selma,

    Creio no oposto e acredito que futebol e poesia têm muito em comum. Eu mesma já li inúmeras crônicas suas que falam a favor disso e contra aquilo. Poesia não combina é com burocracia. Saia desse csargo formal e vá firme nos seus propósitos de poeta.

    Pedro Bondaczuk está sempre colocando textos seus e de Urda Algélica no blog dele. Você tem ido lá no Literário?

    Apareça lá!

    Tudo de melhor e não desanime de combinar bola com rima.

    Abraço, Mara

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