O PÃO NOSSO...
Lêda Selma
A boca silencia a fome
que também foge dos olhos
e pousa nas mãos vazias.
No milagre do grão, o trigo;
no vigor da espiga, o milho;
no calor da fornalha, o pão.
O pão que engole a fome,
o pão que sossega a dor,
o pão que acolhe o sonho,
o pão que renasce a vida.
PRECE DO DESALENTO
Lêda Selma
– Óia, Deus, encarecido,
Te suplico, neste instante,
um bocadinho que seja
de Tua imensa bondade
pra desiludir a miséria,
esperançar a labuta,
arrefecer a descrença
e botar a vida nos prumos.
– Nesta prece encardida
de precisões sem tamanho,
Te peço, Sinhô, meu Deus
– se por graça merecer
de Tua bondade tanta –,
um pedacinho de terra
(coisa pouca, meia manta)
pra extrair dela o grão
que vai encorpar o pão,
acalentar minha mesa
e sujigar a boca da fome.
– Mas se não der, óia, Pai,
nem zangado vou ficar,
apenas dessossegado;
afinal, fiquei sem rumo,
pois a finada esperança
de mim, agora apartada,
me levou as miudezas
que guardei com muito agrado
em meu embornal de sonhos.
– Óia, Pai, tenta entender
o que pretendo explicar,
pois não quero desinteirar
Tua santa paciência:
só incomodei o Sinhô,
por falta de outra via,
pois os homens do poder
não se deixam molestar.
Todos sofrem de surdez,
só os desmandos têm vez,
o pobre...? Vá se danar!
– E embora meio sem jeito,
o jeito é mesmo implorar
por Tua intercessão.
Estou cansado, meu Pai,
de tanto sacolejar
esta agonia medonha
que não me deixa viver.
Minha fé já arriou,
perdi tudo o que eu tinha:
saúde, sonho, família...
e com a alma vazia,
me restou esmorecer.
Assim, melhor descansar!
– Óia, Deus, sei que o Sinhô
é por demais ocupado:
tanta guerra, tanta fome,
e quantos desempregados
(e pra dar conta dos políticos,
é preciso tempo dobrado!)!
Mas me permita, meu Pai,
por força do desespero
(pois careço tanto, tanto
de um caminho, um trieiro)
Te sugerir, respeitoso,
uma nova empreitada:
se por castigo me deste,
ou quem sabe por esmola,
esta vida malfadada,
já é hora, meu Sinhô,
de me dar, por misericórdia,
a morte como escora.
Eu já fiz por merecer...!
CAMINHO ESTÉRIL
Lêda Selma
Caminho um chão de carne estriada,
um chão sem chão, com fendas e vazios,
um não sei quê de agonia fastiosa,
preguiça de sonho, miúdos de coisa morta.
Plano na força que gravita à toa,
e sinto o bafio dos dias esquecidos.
Chantada na aridez do caminho infértil,
me farto de sol e de mim, mas prossigo.
E, assim, mais e mais machuco o chão
e me firo com as feridas em que piso.
Obrigada por compartilhar os seus poemas, Lêda! Gosto muito de tudo que você escreve, sempre!
ResponderExcluirEstamos viajando, mas no final de setembro voltaremos para Goiânia e quero ajudá-la no natal do orfanato!
Regina Lúcia