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domingo, 7 de novembro de 2010

PRESIDENTA OU PRESIDENTE? - JORNAL OPÇÃO - 7/10/10

PRESIDENTA OU PRESIDENTE?
Lêda Selma*
A ascensão de Dilma Rousseff à presidência do Brasil mexeu com o imaginário de muitos e com o vocabulário de outros, o que gerou polêmicas, dúvidas e, em consequência, tergiversações descabidas e conclusões temerárias.
Vários “lexicólogos” – que canastrões! – de plantão esbaldaram-se no ofício de disseminar desinformação aqui, ali, acolá. Assim, grassou pela internet, e pousou em meu endereço eletrônico, um e-mail intitulado Exceção Gramatical. Tal “exceção”, afirmava seu autor e ou difusor, a palavra presidenta. “Uma agressão ao pobre português”, “Invenção da Dilma e de seus sequazes”, “Coisas do Lula” – quantas asneiras apregoava o texto! Ignorância pouca é luxo, francamente!
Nem exceção nem agressão ou invenção (que rimas pobres e enjoativas, credo!). Afinal, a palavra foi dicionarizada há muuuuuito tempo! Em 1943, com aprovação unânime da Academia Brasileira de Letras, surgiu o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, do Prof. Aurélio Buarque de Hollanda Ferreira, cuja base foi o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, da Academia das Ciências de Lisboa (edição de 1940), após acordo entre as duas academias: a Brasileira e a Portuguesa. Nele, consta “presidenta – s.f.”. Em 1956, o termo figura na 1ª edição do Dicionário Escolar da Língua Portuguesa, aquele de capa dura, grossa, preta, organizado por Francisco da Silveira Bueno, e patrocinado pela Fundação Nacional de Material Escolar/FENAME, órgão do Ministério da Educação e Cultura/MEC. Pois é, e naquela época, nem sonhávamos com uma presidenta, até porque, no Brasil, só em meados da década de 30, a mulher conquistou o direito de votar, bem entendido, se o marido, seu chefe e senhor, autorizasse. Presidenta? Nem no pensamento. Rainha, sim, do lar! Porém, visionária, a palavra estava lá no dicionário: “presidenta, s.f. (Neol.) Mulher que preside, a esposa do presidente”. Convenhamos, nesta última acepção, bastante curiosa; os outros dicionaristas também a adotam, todavia, não a consideram neologismo.
Nem de Lula nem de Dilma. A Invenção é da língua mesmo, sempre viva e mutável. Quem duvidar, consulte o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa/VOLP (publicação da Academia Brasileira de Letras), os dicionários do Aurélio, do Houaiss, do Antenor Nascentes, do Paschoal Cegalla, a Enciclopédia Delta Larousse...
Presidenta, sim senhor, com muita honra e autonomia, que fique claro!, defende-se o feminino de presidente, exigindo respeito e direito à vida e à legalidade. E com toda razão, ora! Que muitos a julguem um modismo, não lhe percebam atributos femininos, não a considerem bonita, charmosa, bem soante, que a sintam com ares de pernóstica, tudo bem!, mas daí a lhe negarem espaço, tenham paciência! Afinal, se se trata de um vocábulo correto, qual o inconveniente em lhe darem legitimidade? A palavra existe, e pronto! Respeito é bom e ela gosta.
Presidenta ou presidente, o Brasil, que mantém ainda fortes ranços machistas, elegeu a primeira mulher para o topo do poder, e isso é histórico. Então, que cada um faça uso da palavra mais condizente com seu gosto ou intimidade. Quem optar por presidenta, use-a sem susto, sem medo de errar, e sobreponha-se às críticas e ao preconceito, convicto de que nenhuma agressão à Língua Portuguesa o vocábulo perpetrará. A malfadada teoria da “exceção gramatical”, ah! essa, sem dúvida, é um acinte à presidenta, ora se é!
Agora, cá pra nós, acho mais bonita a palavra presidente. Mais suave, bem mais elegante. No entanto, presidenta é imponente, ressoa forte, tem algo de inusitado e muita personalidade. E então?
Bem, seja qual for nossa escolha, estaremos bem servidos. Além do mais, é instigante a possibilidade da variação, da troca do lugar-comum pela novidade. O usual, às vezes, torna-se sem graça, insosso...
Bem-vindos, pois, os dois vocábulos! E que Deus os proteja das polêmicas inócuas, e abençoe nossa presidenta, ou presidente, como queiram!

Um comentário:

  1. Adorei o texto Leda!!! Estava mesmo precisando que alguém desse essa explicação pública, até porque, ao contrário do que afirmam alguns, "presidente" não é o mesmo caso de "doente". Ah! que coincidência temos o mesmo template. Voltei a blogar. Vá lá: www.maishistoriasdemaria.blogspot.com

    Mil beijos! ;)

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