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quinta-feira, 4 de novembro de 2010

CRÔNICA: PORTO DE GALINHAS - Sábado, 6/10/10

PORTO DE GALINHAS: NICHO DA BELEZA

Lêda Selma


Belo passeio, apesar de alguns vieses e reveses. Viagem com nuanças saudosistas, familiares, lá pelas bandas nordestinas, mais precisamente, Pernambuco.
O início, Porto de Galinhas, um encanto de lugar, mar de verde instigante (ai, meu Deus, por falar em verde... socorro! Piedade, Santo Expedido, todos os santos, anjos, arcanjos, orixás!!!), pois é, verde permeado de um branco espuma a colear imponente, às vezes, em forma de bailado, às vezes, em ritmo de contorções.
A origem do nome Porto de Galinhas, lenda ou não, remete-nos a um tempo sombrio, que tem em sua história capítulos de uma indignidade aviltante: o período da escravatura. Pois bem, dizem que o curioso nome surgiu após a abolição, quando os negros vindos da África entravam no Brasil, clandestinamente, por rota que se desviava do Recife, devido à fiscalização rigorosa, e rumavam para uma praia nas cercanias da capital, onde desembarcavam em engradados de galinhas-d’angola, para serem traficados e escravizados. Ao aportarem, bradavam os contrabandistas: “Tem galinha nova no porto!”. Daí, a denominação Porto de Galinhas. Baita ironia: antes, um lugar infernal. Hoje, um lugar paradísico. Um dos locais que Deus, por certo, escolhe para descansar ou para apreciar a magnitude de Sua criação, ostentada na mornidade clara daquelas águas transparentes, nas piscinas naturais, redutos de serelepes peixinhos multicoloridos, no balanço lânguido das jangadas deslizando sobre a verdice do mar, tudo sob um céu azul-turqueza que torna encantada a paisagem de um dos mais admirados balneários do litoral pernambucano, a 70 quilômetros de Recife, no município de Ipojuca.
Próxima parada, “Ricife”, como dizem os nativos, no emblemático bairro da Boa Viagem, cuja praia xará restringe-se, hoje, quase só a um belo cartão de visitas – xô, tubarão! O Hotel Atlante Plaza, coisa fina! E foi lá que, à noite, véspera do meu retorno a Goiânia, (antecipado devido ao 2º turno, afinal, queria participar da eleição de Dilma), a camareira, toda orgulhosa e doidinha para mostrar-me sua “importância”, disse-me, forjando um tom displicente: “Amanhã, vai ser um tumulto e tanto aqui. Eu cuido da suíte de Lula, e ele chegará logo no início da tarde, aí, é só correria”. Maximizei a função desempenhada pela moça e, então, ela não se fez de suplicada: “Sou muito amiga dos artistas da Globo, do Zezé Di Camargo, tenho foto com essa gente toda, até com Lula, homem simples, o pai dos pobres”. E, em ritmo de carreira, despediu-se com a convicção de que me impingiu forte impressão. Uma simpatia, a Maria do Carmo!
A visita a Caruaru, terra de meu pai, o almoço preparado por uma prima, as conversas sobre nossa família, tudo ungido por lembranças e saudades, construíram momentos tocantes e inesquecíveis. Uma viagem que me permitiu resgatar raízes paternas e conhecer, mesmo com atraso, histórias familiares.
Em Olinda, além da beleza e riqueza históricas, o som invisível e não, inaudível, do bloco de Alceu Valença, marcando o carnaval da sacada azul de seu sobrado. O frevo e o maracatu parecem vivos nas ladeiras.
Ah! voltarei a Recife, ao hotel Atlante Plaza. Parênteses: é sabido por todos que, não raro, tenho “brancos” inacreditáveis, distrações antológicas. Neste caso, o elevador, o cenário (após meu desjejum). Bom, entrei, seguida por dois senhores, um de cabelos grisalhos e o outro de cor morena. Cumprimentei-os, apertei o botão do 8º andar e, ao sair, disse-lhes alegremente: um lindo dia para vocês! Encaminhei-me à suíte, bati à porta, pois imaginava meu marido lá dentro (ele detinha o cartão) e, de repente, percebi alguém às minhas costas. Quem? O marido, para meu espanto! Intrigada, perguntei-lhe: uai, onde você estava? E ele, ainda mais desentendido: “No elevador, ora, subi com você!”. Meu Deus! – retruquei apalermada – então, você era o senhor de cabelos grisalhos...?!

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