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quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

POEMA

INTEIREZA DAS METADES

Lêda Selma

“... E que a minha loucura seja perdoada, porque metade de mim é amor, e a outra metade também.” – Oswaldo Montenegro

Tenho duas metades conflitantes:
uma é inquietaude,
a outra, solidão.

Uma é desassossego,
a outra, calmaria.

Tenho duas metades contrastantes:
a que sossega dores,
a que instila lembranças.

Uma conduz-me a delírios,
a outra, a saudades.

Tenho duas metades piedosas:
uma é ataúde,
a outra, liberdade.

Uma é espólio de medos,
a outra, covil de desejos.

Tenho duas metades intrigantes:
uma é reduto de gritos,
a outra, motim de prazeres.

Uma é ida sem caminho,
a outra, volta com atalho.

Tenho duas metades poderosas:
uma reza feito santa,
a outra, serpente, profana.

Uma é casta, quase insana,
a outra, fugaz e devassa.

Tenho duas metades tortas:
uma enlouquece e amedronta,
a outra persegue e abate.

Uma é fantasma,
a outra, impiedade.

Tenho duas metades implacáveis:
uma é morte,
a outra, tempo.

Uma satiriza verdades,
a outra martiriza sonhos.

Tenho duas metades sutis:
uma é rastos de lua,
a outra, restos de chuva.

Uma diz o que sinto,
a outra, o que minto.

Tenho duas metades perigosas:
uma recende amor,
a outra provoca a vida.

Um comentário:

  1. Querida Lêda:
    Quanta saudade! Estou me deleitando cada vez mais com os seus textos. Vou trabalhá-los com a turma do 1º período de Química , da UFRPE/PE. Você e Cida estarão na análise textual da disciplina Português I. Novidades: vou mandar buscar os seus livros abaixo listados:

    Fuligens do Sonho
    Das sendas à Travessia
    Pais e Filhos
    Migração das Horas.

    Vi na estante virtual.
    Bjos sempre do nordestino para uma nordestina.
    Sempre saudades olindenses, recifenses e pernambucanas!

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