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sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Crônica publicada no Diário da Manhã, sábado, 2/10/10

DE VOLTA, SAFADINO

Lêda Selma

Nada escapa aos olhos-lupa do astuto Safadino, o velho mendigo trapaceiro e vivaldino, o tal que possui assessora, celular com TV, cartão de crédito e de visita, ar condicionado com controle remoto, carro (sem dúvida, não popular), muita intimidade com certos políticos, pinta de politizado e mania de intelectual.
Com tanta fama adquirida, não surpreendeu os colegas ao criar o mesalão, um derivado do original, mas com característica própria: mesada semanal – matreira inovação. Safadino não ficaria à margem dessa baita mamata, ora, e, tampouco, deixaria sem melhorias a ideia original! Justo ele, chegadinho a uma corrupção?
Nem Safadino suportou as promessas esdrúxulas e carnavalescas de alguns políticos, durante o Horário Eleitoral Gratuito. E, convenhamos, nada há de mais hilário no momento. Novidade? Nem ela, a própria. Tudo velho e insosso. Blablablás comuníssimos. Candidatos com embromações senis. Estratégias de bengala. Discursos reumáticos.
Na verdade, Safadino cansou-se das balelas e embelecos dos canastrões da política na arte de representar. “Cada figura...!” – injuriou-se, ao desligar sua LCD, 52 polegadas, adquirida com mensalinhos amealhados da boa-fé dos passantes. E, antes que a estupefação de todos se lhe mostrasse “invasiva e ultrajante”, encheu o peito e a voz: “Mendigo também gosta de luxo! Pensam que coisa boa é privilégio só de rico? Ih...! já foi o tempo, ó!”.
Safadino, apesar do nome e da postura rotineira, indignou-se com a avalanche de baixarias que enodoou a internet e a mídia nacional, sob a chancela do denuncismo, nas últimas semanas; não que tudo fosse inverdade, óbvio que não!, porém, na carona das pseudoverdades, inúmeras calúnias foram disseminadas pelos veículos de comunicação mais afeitos ao poder da notícia a qualquer preço. Como a comédia e o drama, não raro, completam-se, algumas denúncias margearam o ridículo, tornaram-se até risíveis, e alvoroçaram os incautos. Algumas, como as do “Jornal Serra Abaixo”, Safadino divulgou: “Foi Dilma quem furou os olhos do Assum Preto!”. “Joãozinho sem braço é mais uma vítima da Dilma”. “No escândalo do Paraíso, Dilma deu propina à Macieira para que ela cedesse sua filha (a maçã) a Eva para corromper Adão”. “Exclusivo: Dilma induziu o Todo-Poderoso à criação do Pecado Original”. “Segundo Noé, Dilma é a responsável pelo Dilúvio”. “Está comprovado: Dilma, Ministra de Hitler, deflagrou a 2ª Guerra Mundial”. E, com seu jeito matreiro, Safadino contou-me como tudo começou:
– VEJA: queriam que Dilma, nesta ÉPOCA de campanha, fosse apenas uma FOLHA perdida no GLOBO, à mercê de serração. Não deu certo, naturalmente. Nem poderia, ora! Assim, sem se intimidar, ela serrou os bicos dos tucanos, que ficaram num ESTADÃO lastimável, pôs Lula a tiracolo e PT saudações! Primeiro turno neles!”.
Crítico incomparável, estilo “não olhe o que eu faço e não faça o que eu olho”, e diante de tantas e tantas embófias eleiçoeiras, Safadino resolveu fazer seu protesto, após assistir a um daqueles debates. E desceu o verso:

Em tempos de eleição,
tudo se torna normal:
promessas, sorrisos, abraços,
“bondade” dos candidatos,
sua “rica” história de vida,
sua “pobreza” ancestral,
todos eles, uns santinhos,
distribuindo beijinhos
(tadinhas das criancinhas!)
e tudo é só carnaval!

Para que os tais se elejam
é preciso muito cobre...
Coitadinhos...! O que fazer...
se todos eles são “pobres”...!?!

Pobres são, ah! de espírito,
Ih...! nem Deus dá jeito nisso!
E por falta de propostas,
campanha vira fuxico.
E não há careca, meu nego,
que resista a tudo isso.

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